Enquanto atendia a um bebê de apenas um mês na manhã desta quinta-feira (10), a pediatra Fernanda Paiva se deparou com uma cena que é rotina nas unidades de saúde de Porto Alegre: a queda do sistema e-SUS. O episódio foi verificado pelo diretor do Simers Jorge Eltz quando visitava o posto Bananeiras, na zona leste, para conferir as condições de trabalho para a categoria.
Usado para registrar de forma eletrônica as informações referentes às consultas, o sistema tem se mostrado cada vez mais instável na percepção dos profissionais que o utilizam diariamente. Ao tentar salvar os dados da criança, o sistema travou e impediu que Fernanda concluísse a tarefa. De acordo com a pediatra, a situação é frequente.
A lentidão da ferramenta ou até mesmo a inacessibilidade são entraves para o trabalho do médico – que precisa atender um paciente em até 20 minutos, conforme o preconizado pela Secretaria Municipal de Saúde (SMS) da capital. Isso por que é no e-SUS que ficam arquivados os dados dos pacientes, o histórico das consultas, agenda, entre outras informações fundamentais para o andamento do atendimento.
Segundo Fernanda e outros médicos consultados pelo Simers, mesmo que em alguns casos a indisponibilidade seja informada com antecedência, a única possibilidade é imprimir a agenda de consultas. Todos os outros dados ficam acessíveis apenas na ferramenta. Diante de um paciente que vai ao consultório para uma reconsulta, por exemplo, o médico fica às cegas para dar continuidade ao tratamento.
Assim como no posto Bananeiras, o Simers identificou que o problema se repete em outras unidades de Porto Alegre. Desde a semana passada, Eltz visitou, na ordem, as UBS Assis Brasil, Passo das Pedras e Rubem Berta; os Centros de Saúde Modelo e Bom Jesus; a Unidade de Saúde Coinma; o Centro de Saúde Navegantes e as UBS Diretor Pestana e Panorama. Em todas as ocasiões, ouviu relatos idênticos.
O e-SUS foi desenvolvido e é gerenciado pelo Ministério da Saúde com apoio das gestões municipais. Suas atualizações são efetivadas a qualquer momento, gerando obstrução na atividade médica.
Em 2016, a Secretaria Municipal da Saúde assumiu o compromisso com o Simers de mapear os horários de queda no sistema. Desde então, a entidade promoveu reuniões para esclarecer as questões, mas nunca obteve uma resposta definitiva da prefeitura. Segundo Eltz, uma das principais hipóteses sobre a frequência de indisponibilidade do e-SUS tem a ver com a capacidade da rede da Procempa, empresa de tecnologia da informação e comunicação de Porto Alegre, responsável pela gerência do sistema no município.Outra polêmica com relação ao uso do E-sus é a determinação – e cobrança por parte da SMS – para que os médicos atendam cada paciente por no máximo 20 minutos. O Simers reforça que o tempo estabelecido para cada atendimento é uma decisão do médico. O Código de Ética Médica afirma que é direito do médico “dedicar ao paciente, quando trabalhar com relação de emprego, o tempo que sua experiência e capacidade profissional recomendarem para o desempenho de sua atividade, evitando que o acúmulo de encargos ou de consultas prejudique o paciente”.
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